Este é um assunto que pretendo
abordar mais detidamente no futuro, mas com esta postagem quero lançar as
sementes desse debate, já comum nos Estados Unidos, por exemplo. Como vocês vão
perceber no decorrer deste blog, eu farei muitas referências aos Estados
Unidos, tanto pelo fato de que foi lá que iniciei meus estudos sobre o assunto,
como porque aquele país é mesmo referência quando o assunto é cerveja. Então,
se você é aquele tipo que faz um curso superior de Humanidades onde a coisa
mais inteligente que rola são as palavras de ordem contra o imperialismo ianque,
este não é o seu lugar. Aliás, este Universo todo não é o seu lugar. Como diria
Nelson Rodrigues, xingar aquela nação é uma maneira de parecer inteligente sem
ler, sem pensar. Faz muito bem pra saúde poder pensar sem estereótipos...
Voltando ao assunto em questão,
quero fazer referência ao notório fato de que as cervejarias pequenas
(microbreweries) já estão desempenhando um importante papel no mercado
cervejeiro americano e europeu, na medida em que também vem crescendo na
Austrália, por exemplo. Isso não tarda a acontecer no Brasil, o que pode ser
percebido por constante - porém ainda pequeno - crescimento deste setor por
aqui.
Não tanto porque tardamos mas não
deixamos de copiar o que vem de fora, mas principalmente pelo aumento do poder
de compra que a renda do brasileiro vêm alcançando, além do crescimento da tão
falada "nova classe média". Aliás, mesmo que a renda não tenha
crescido tanto, a própria euforia em torno deste tal crescimento já cria o
panorama para o momentum ao qual me refiro.
Esta nova classe média tende a se
tornar mais exigente no que diz respeito ao consumo, buscando sempre um
diferencial naquilo que compra. Por que comprar um carro nacional quando se
pode ter um importado? Por que comprar uma casa na cidade quando se pode ter
uma à beira-mar? Por que beber Skol quando se pode importar uma Dubbel
trapista? Por que comprar o que todo mundo tem se se pode comprar um produto de
maior diferencial?
Alia-se a isto o fato de que a gigante
Ambev (falaremos sobre sua história num próximo momento) domina 70% do mercado
de cervejas no Brasil e, quando uma grande corporação detém este tipo de
controle sem a devida concorrência, a qualidade do produto tende a cair. Sendo
assim, um determinado grupo de consumidores irá buscar o citado diferencial.
Mas, atenção, não quero dizer com
isso que o mercado de pequenas cervejarias substituirá o da grande corporação.
Este novo mercado tende a representar apenas 5% do total do consumo no seu
futuro mais promissor. Isso porque sempre haverá um predomínio dos bebedores
despretensiosos das cervejas populares e mais baratas.
Dei esse chute nos 5%, mas reconheço
estar sendo muito otimista. Este é o número que as pequenas cervejarias representam
no mercado americano, muito mais “instruído” (se me permitem) e curioso de
novidades. Ali, numa tendência inclusive recente, abre-se uma nova microbrewery
a cada dia em algum lugar do país, segundo dados das associações de
microbrewers. Estas cervejarias são fruto do amadurecimento e consolidação de
cervejeiros caseiros que abandonaram o amadorismo para se tornarem empresários
do ramo.
Vale lembrar que até final dos anos
80 a fabricação de cervejas caseiras era proibida nos Estados Unidos, por uma
legislação que era resquício da Lei Seca. Foi a partir de então que pessoas
comuns começaram a investigar e experimentar a fabricação caseira, formando
assim uma geração que agora está florescendo. Lembre-se que, no Brasil, esta
geração ainda é um feto...
Vale dizer que, no final nos anos 80
haviam 100 cervejarias nos Estados Unidos. Hoje existem 2.000. O mercado
cresceu também por causa das leis que beneficiaram os pequenos produtores,
possibilitando inclusive que estes comercializassem o que produziam. Inclusive recentemente
uma lei permitiu que homebrewers e pequenos cervejeiros vendessem diretamente
ao consumidor para consumo off-site em qualquer quantidade ou volume.
O senador eleito pelo condado de
Montgomery, na área metropolitana da Philadelphia, Chuck McIlhinney,
recentemente deu uma declaração em que declarava o apoio aos pequenos
cervejeiros na medida em que esperava que estes elevassem os números que a
indústria de cervejas geram no estado, atualmente em 2 bilhões de dólares.
Um outro aspecto que beneficia o
mercado cervejeiro é a própria característica da cerveja que permite uma
infinita possibilidade de variedade de sabores, texturas, tipos, etc. Diferente
do vinho, por exemplo, em que esta variação é mínima. Ora, vinho é basicamente uva
e álcool. O que diferencia cada vinho – pelo menos se você não é especialista
em degustação de vinhos – é o tipo e a qualidade da uva.
Por exemplo, você nunca poderá
reproduzir em sua casa um Moet & Chandon, porque este vinho é feito sob
específicas condições num específico lugar no mundo, a França. No entanto,
poderá reproduzir qualquer cerveja do mundo, uma vez que se conheça a receita. E
estas, com raras exceções, são conhecidas e divulgadas.
Além disso, a infinita variedade de
tipos e sabores de cerveja é um estímulo à criatividade humana. Pode-se fazer
de vários tons, sabores, tipos, etc. Pode-se usar temperos dos mais diversos,
pimentas, ervas, frutas, e até carnes e linguiças.
Na verdade, todo cervejeiro sabe que
as possibilidades são infinitas e o resultado é sempre agradável. É como dizem
os cervejeiros, se você diz que não gosta de cerveja, é porque ainda não
experimentou a cerveja certa.
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