Nada mais oportuno então do que tecer algumas palavras sobre
as cervejas moçambicanas. Este ano a cerveja mais antiga de Moçambique comemora
80 anos, a Laurentina. O nome é uma homenagem ao antigo nome de Maputo,
Lourenço Marques, que por sua vez era uma homenagem ao explorador português
que, no século XVI, comandou as explorações na área da Baía de Maputo.
A cerveja já recebeu vários prêmios internacionais,
inclusive o Grand Gold de Bruxelas, em 2009. A história dessa cerveja começou quando
o imigrante grego Cretikos, ex-vendedor de água fresca, resolveu abrir a
primeira fábrica de gelo e de água mineral de Moçambique, a Victoria Ice and
Water Factory. Em 1932, ele viaja a Alemanha e contrata um mestre cervejeiro
para desenvolver uma receita de estilo europeu.
A cervejaria foi estatizada pelo governo de Samora Machel após
a independência de Moçambique e foi novamente privatizada já nos anos 1990,
quando a multinacional Castel, proprietária da angolana Cuca, comprou a
Laurentina. As variantes da Laurentina são Preta, Clara e Premium. A cervejaria
sofreu uma intervenção do governo de Samora Machel após a independência de
Moçambique, em 25 de junho de 1975. Em 2002, a marca foi vendida, por fim, à
multinacional sul-africana SABMiller, que comprou também a 2M e a Manica.
A cerveja mais popular, a 2M, da fábrica Mac Mahon, foi
inaugurada em 1965, em Maputo. O nome é uma homenagem ao antigo presidente
francês Marie Edmé Patrice Maurice, conde de Mac-Mahon, que, em 1875, decidiu a
favor de Portugal numa disputa com a Grã-Bretanha em relação à posse do Sul de
Moçambique.
Considerada a cerveja da classe mais pobre, chegou a ser
vendida sem rótulo durante os anos da guerra civil, só sendo possível reconhecê-la
pelo símbolo estampado na tampa. Além disso, nesta época as máquinas eram muito
obsoletas e inclusive uma avaria na máquina pasteurizadora fez com que a vida útil
da cerveja era de uma semana, fazendo com que praticamente todas as cervejas
levadas para fora de Maputo chegassem ao seu destino fosse imprópria para o
consumo.
Também foi estatizada, mas, em 1995, quando da assinatura do
acordo de privatização entre a SABMiller e o Governo de Moçambique, foi
estabelecido a Cervejas de Moçambique SARL e, em dezembro de 2003, esta se
tornou a primeira empresa moçambicana na Bolsa de Valores de Moçambique. Com a
cotação da empresa, os trabalhadores passaram a deter 10% das suas ações.
Finalmente, a cerveja Manica, de longe a minha preferida, é
mais encorpada que as outras, mas não tão popular. Produzida na província de Manica,
onde eu vivia, ela não é tão fácil de ser encontrada em outras regiões do país.
Em Moçambique se bebe cerveja diferentemente de como se bebe no Brasil. Ali, elas
veem numa garrafa de 550ml e não se serve uma garrafa para cada mesa, mas uma
para cada pessoa. Sendo assim, minha primeira experiência com uma garrafa de
Manica, ABV 5.5%, foi bem “especial”... Ela me lembra, com as devidas
ressalvas, a Therezópolis Premium.
O mercado cervejeiro em Moçambique está em franca expansão,
mas a história não lhe foi gentil. Sobreviveu a vários momentos de séria crise
no país, como o racionamento de alimentos pós-independência, fruto do governo
com forte influência soviética, quando muito da produção de alimentos era exportada
para a China e Rússia, e a população era obrigada a racionar comida. Nos
restaurantes, por exemplo, era estabelecido que só se podia vender uma cerveja
por refeição. Outra situação foi a evasão de mais da metade dos técnicos
qualificados, obrigados a retornar a Portugal, em consequência da
descolonização.
A CDM, inclusive, no ano passado, criou a primeira cerveja de
mandioca do mundo. Chamada Impala, desenvolvida com um duplo objetivo de ser consumida
pelas camadas mais pobres da população, e para ajudar os pequenos agricultores
do norte de país a escoarem os excedentes de mandioca que apodrecem nos campos.
Além disso, no meio deste ano, lançaram a Chibuku, uma
cerveja de milho, feita com o milho produzido na província de Manica.
É tbm tenho boas lembranças Rodrigo...hehehe
ResponderExcluirA Laurentina Preta tbm é sucesso, mas assim como vc tenho na Manica minha paixão.
Sucesso no seu blog.
Abraços