"Sempre que eu leio sobre os males da cerveja, eu paro... de ler!"

"Give a man a beer, he'll waste an hour. Teach a man to brew and he'll waste a lifetime".

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sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A mais cara



Ainda sobre o Egito Antigo, uma oportunidade para falar de uma das mais caras cervejas do mundo. A história dessa cerveja é quase como o roteiro de um filme de Indiana Jones. Um time de arqueólogos da Universidade de Cambridge descobriu uma receita e a descrição do método de fabricação desta cerveja no Templo do Sol da Rainha Nefertiti. A cervejaria encontrada num dos quartos do templo foi construída pelo Rei Akhenaton, pai do Rei Tutankhamon.

A Sociedade de Exploração Egípcia então buscou a ajuda da cervejaria Scottish and Newcastle. O resultado foi a produção de um lote de 1.000 unidades da Tutankhamon Ale (6% ABV), feita com base nessa receita de 3250 anos atrás. 

Os arqueólogos examinaram os grãos e sementes deixadas pelos cervejeiros antigos, bem como os resíduos de cerveja nos frascos escavados, de forma a determinar como a cerveja foi feita. Até a água dos poços do deserto na área foi estudada. Analisaram as pinturas dos túmulos, decifraram hieróglifos e escavados resquícios de levedura em busca da receita do Faraó.

Ao reconstruir a receita, foi usado um antigo tipo de trigo cultivado pelos egípcios e coentro, especiaria muito usada na região do Nilo. A primeira garrafa foi vendida na Inglaterra por cerca de 7.200 dólares. Todas foram vendidas em Harrods, em Londres, com exceção de três que foram leiloadas pelo Museu de Artes de Indianápolis, nos Estados Unidos, por 525 dólares cada. 

O néctar dos Faraós



Outro país que visitei foi o Egito. Diferentemente de Moçambique, a proibição islâmica em relação ao álcool surte algum efeito. Mesmo assim, eles são bastante tolerantes com os turistas, uma vez que bebidas podem ser facilmente compradas em qualquer cidade. As leis são mais liberais que nos outros países islâmicos vizinhos, exceto no mês de Ramadã, em que apenas lugares turísticos vendem cervejas e, na lua cheia que precede o mês, a proibição é total. As cervejas mais comuns são a Sakara, nas versões Gold e King (esta com ABV 10%!!!), a Luxor Classic e a Stella Artois.

O Egito, no entanto, não é tão notável pelo que o país tem de moderno, mas pelo mergulho na História antiga que oferece. E a cerveja, sabe-se, era um componente primordial na dieta do antigo egípcio. Eles bebiam cerveja todos os dias e quase todas as refeições. Era tão importante que era usada como parte do pagamento dos salários dos trabalhadores. Sim, existiu uma era perfeita onde os trabalhadores eram pagos com cerveja. Nem o melhor dos marxistas conseguiria imaginar um mundo tão perfeito.

A cerveja era consumida naquela época por todas as classes sociais, por crianças e adultos. Era também oferecida aos deuses e colocada nos túmulos dos mortos. Durante a minha visita ao Museu do Cairo, pude ver entre os objetos deixados nos túmulos vários vasilhames em que eram colocadas cervejas para o consumo post-mortem dos faraós. Era tão popular que a ressaca era considerada uma razão legítima para faltar ao trabalho.

O processo de produção da cerveja também se encontra registrado em paredes de tumbas. Vários textos antigos dão informações sobre os ingredientes e os procedimentos adotados. O estudo de potes de cerveja pintados também ajudou a pintar um quadro mais completo. Estas cervejas eram geralmente feitas em casa pelas mulheres ou escravos como parte das tarefas domésticas diárias.

O processo era o mesmo da fabricação de pão e, de fato, às vezes era feito de pão velho. O pão era pressionado por uma peneira com água, em um frasco. Normalmente eles adicionavam outros ingredientes para acrescentar sabor, como mel, especiarias e ervas. A seguir, o líquido era filtrado e fermentado. Como era parte da dieta, não tinha um teor alcoólico muito alto, e, pela mesma razão, era mais espessa, extremamente doce (não se usava lúpulo) e nutritiva.

No entanto, a cerveja usada nos festivais aos deuses possuía muito álcool, dado a utilidade desse teor inebriante nestes cultos religiosos. Os festivais das deusas Bast, Sekhmet e Hathor eram regados à muita cerveja com alto teor alcoólico. Uma história contava como a cerveja salvou a humanidade quando Sekhmet (em seu papel como o “Olho de Rá”) foi levada a beber cerveja vermelha que ela confundiu com o sangue e ficou muito bêbada, tendo ficado desmaiada por três dias. Embora estas três deusas estavam intimamente associadas a cerveja, Tjenenet é que era a antiga deusa egípcia oficial de cerveja. Segundo a lenda, Osíris ensinou aos antigos egípcios a arte de produção de cerveja.

O glifo na língua egípcia antiga para um jarro de cerveja (abaixo) também aparecia em palavras como “tigela de oferendas de pão”, “café da manhã”, “cerveja”, “bebida”, “pagamento de salário”, “alimentos”, “oferenda”, “ceia”, etc.