"Sempre que eu leio sobre os males da cerveja, eu paro... de ler!"

"Give a man a beer, he'll waste an hour. Teach a man to brew and he'll waste a lifetime".

sexta-feira, 2 de novembro de 2012

Garçon, traz a carta de cervejas, por favor!

 Irish Pub, em Philly

Antes de tudo é mister dizer sobre onde e quando me converti em um discípulo das boas novas cervejeiras. 

Os ligeiros 2 anos em que vivi na cidade da Philadelphia, nos Estados Unidos, me deram a oportunidade de iniciar um aprofundamento numa matéria em que sempre tive uma grande curiosidade e afinidade, o mundo das cervejas. 
É sabido que a cidade da Philadelphia é, ela própria, o berço da História Americana. Foi ali que aconteceram os dois Congressos Continentais, isto é, as convenções em que se reuniram os representantes das treze colônias e que culminaram com os conflitos armados visando a independência, a chamada Revolução Americana. Naquela época Robert Morris disse que Philadelphia era para os Estados Unidos o que o coração é para o corpo humano, dada a sua posição geograficamente estratégica e a extensão da circulação de mercadorias e artífices. 
Por exemplo, o Independence National Historical Park reúne os locais precípuos da Revolução Americana, inclusive o Independence Hall, onde aconteceram os Congressos Continentais, a Declaração de Independência e a promulgação da Constituição Americana, além dos locais onde estão o Liberty Bell, a primeira residência presidencial, os dois primeiros bancos americanos, etc.
O que quase não se sabe é a afinidade desta cidade com o mundo cervejeiro. 
Ora, a cerveja desempenhou um importante papel na história da colonização das Américas e na história das navegações, principalmente a do povo inglês. Para se viajar distâncias tão longas a bordo de caravelas era necessário estocar comida e bebida necessárias em suficiente quantidade sem que houvesse a deteriorização destes alimentos. A cerveja era, então, a melhor opção. Chamada de “pão líquido”, possuía todos os atributos para ser escolhida como a bebida oficial destas viagens. O álcool evitava a contaminação e mesmo prevenia doenças, além do que os ingredientes da cerveja ofereciam as vitaminas que garantiam uma jornada longa de trabalho na caravela.
Para se ter uma ideia, o navio Arbella, que levava uma das primeiras levas de colonos ingleses a América do Norte, estava carregado com 40 mil de cerveja e 40 mil litros de vinho. Diz a lenda que os primeiros Pilgrims, inclusive, desembarcaram em Massachussets ao invés de descer mais ao sul porque faltou cerveja. O fato é que uma das primeiras construções na nova terra foi uma brewhouse para fabricar cervejas.
George Washington e Thomas Jefferson fabricavam cervejas caseiras e tinham, ambos, suas próprias receitas. Recentemente, uma das maiores cervejarias da Philadephia (e a melhor, na minha opinião), a Yards Brewing Company, juntamente com um tradicional bar da cidade, o City Tavern, produziram uma linha chamada de Ales of the Revolution, seguindo as receitas originais, com algumas mudanças no teor porque as originais eram muito fortes, tipo coisa que ninguém está acostumado no nosso tempo, segundo me falou um dos cervejeiros da Yards (vou voltar num próximo post para falar destas cervejas).
Se eu ainda não te convenci que Philadelphia é a cidade da cerveja, vou de dois fatos e uma lenda: a) segundo pesquisas históricas, já haviam brewhouses e tavernas na região antes da fundação da cidade por William Penn em 1682; b) outro fato histórico relevante é que a Declaração de Independência dos EUA foi escrita por Thomas Jefferson num bar, e o primeiro a assiná-la foi John Hancock, um contrabandista de bebidas; c) finalmente, reza a lenda que o primeiro lugar em que Benjamin Franklin entrou quando da sua primeira visita à cidade foi numa taverna. Além disso, um dos maiores eventos no país sobre cerveja acontece todo ano na cidade, o Philly Beer Week.


Foi assim que, nessa cidade, eu aprimorei o meu antigo e imaturo gosto por cervejas gourmet. 
O restaurante em que trabalhava estava em expansão para se transformar num Bistro estilo italiano e eu, como um dos gerentes, me vi envolvido no processo de implementação de uma carta de vinhos e de 12 taps de cervejas gourmet, além de uma posterior inclusão de um menu específico para cervejas gourmet em garrafas. Este processo incluiu reuniões com sommeliers, consultores e fornecedores de cervejas, além da escolha do perfil da carta de cervejas. Meu chefe era um aficionado por Pale Ale’s, enquanto eu tendo pro lado mais maltado da coisa, de preferência belgas. E, parte por nossas conversas, parte por razões de mercado, a carta de cervejas foi se formando.
Foi quando eu comecei a procurar cursos na cidade e descobri que Lynn Hoffman, um dos maiores sommeliers do país, era quase meu vizinho e dava cursos regulares num Learning Center e numa loja de produtos cervejeiros no bairro. Dr. Hoffman é um reconhecido sommelier especialista em vinhos que, inclusive, foi, por 15 anos, host de um programa de TV, destes de culinária e vinho. Migrou, portanto, para o ramo cervejeiro, que defende ser o novo momentum do mercado.Uma frase que gosta de repetir é: “o melhor vinho para harmonizar com qualquer prato é uma cerveja”. 
Meu primeiro contato com ele foi num curso de degustação e harmonização, em que fui dando um passo mais sério na direção das cervejas gourmet. Daí o convidei para dar um curso aos nossos garçons e fui convidado para participar de um grupo de homebrewers que se reuniam no bairro. Foi então que fiz meu curso de homebrewing e o namoro virou um casamento feliz.
Este blog será um registro do que tenho aprendido sobre o assunto.


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