"Sempre que eu leio sobre os males da cerveja, eu paro... de ler!"

"Give a man a beer, he'll waste an hour. Teach a man to brew and he'll waste a lifetime".

segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Degustação passo a passo

A maneira como você bebe a sua cerveja é um fator importante que vai influenciar na experiencia como um todo. Assim como qualquer outro alimento, se você apenas engole sem atentar as nuances de aroma, tessitura e sabor, por exemplo, com certeza você não tirara proveito dos aspectos degustativos e a sua experiencia restara frustada: você estará apenas enchendo a barriga e perdera a chance de sentir os prazeres que o seu paladar é capaz de te dar.

Para uma melhor degustação da sua cerveja, quero dar algumas recomendações em como fazer para tirar o melhor proveito de todas as nuances deste liquido sagrado.

Antes de iniciar a degustação, no entanto, é importante atentar para alguns requisitos:

a) Certifique-se de que a cerveja está na temperatura adequada. Nada de “estupidamente gelada”, porque isso afetará o seu paladar, inibindo as papilas degustativas, e você não perceberá todos os sabores. A temperatura ideal é de 4 a 6 graus Celsius para as cervejas mais leves e claras e um pouco mais quente (6 a 9 C) para as cervejas mais escuras. Algumas cervejas com alto teor alcoólico podem, inclusive, serem servidas à temperatura ambiente.

b) Nao beba direto na garrafa. Como todos sabem, cerveja tem gás carbônico resultante do processo de fermentação  o que permite a formação das bolhas. Se você não transferir o liquido para um copo, o gás  continua acumulado na garrafa e vai todo para a sua barriga. Isto te dará a sensação de estomago inchado. Alem disso, a cerveja derramada dentro do copo formara a espuma e liberara o aroma, essenciais para uma degustação completa.

c) Apesar de não ser essencial, use o copo especifico de cada tipo de cerveja vai otimizar a experiencia. Este assunto merece um post especial, então não vamos entrar mais a fundo nisso agora.
d) Existem varias formas corretas de encher o copo, mas um jeito bem simples e fácil é inclinar o copo 45 graus, deitando o liquido mais rapidamente (para liberar o CO2) e ir diminuindo a velocidade na medida em que a espuma começa a se formar. Algumas cervejas exigem uma técnica especifica, como as cervejas de trigo e garrafas de rolha, que devem ser derramadas lentamente, já que criam espuma muito rápido  Cervejas artesanais acumulam sedimentos de levedura no fundo da garrafa e, caso você não goste do sabor, deixe um restinho de cerveja na garrafa para que o sedimento não desça  Em cervejas do tipo pale lager, como as comuns pilsens, deite a cerveja vagarosamente, fazendo-a escorrer pelo interior do copo, já que estas cervejas, por terem menos proteínas  tendem a formarem grande quantidade de espuma, que se dissipa rapidamente.


Agora, uma vez com a cerveja no copo, siga estes passos:
1- Inale o aroma. Como este é a primeira nuance a se dissipar, sinta o aroma primeiro. O sabor da cerveja é parcialmente baseado no aroma: um quarto da sensação de sabor deriva da sensação percebida pelo olfato. Alem do “timbre” do aroma, preste atenção na intensidade de cada nuance deste aroma.
Normalmente, o aroma mais proeminente numa cerveja é o do malte. É o mais obvio e pode ir do doce e perfumado ao rico e caramelado. As cervejas escuras possuem um aroma de grão torrado ou tostado, que podem lembrar café ou até chocolate.
O segundo aroma normalmente é o aroma do lúpulo  Este depende da variedade, quantidade e momento em que o lúpulo foi adicionado ao mosto, ou se lúpulos aromáticos foram adicionados. Aromas de lúpulo podem ser descritos como ervas, gramíneo, perfumado, cítrico, apimentado, etc.
Outros aromas, como de esteres frutados e álcool, formados pela fermentação  são as chamadas 'características da fermentação'. Variam de acordo com as cepas de levedura e a temperatura durante a fermentação  Alguns aromas como cheiro de plastico, ovo podre, cachorro molhado e vegetal cozido são sinais de cerveja mal feita ou mal armazenada.

2- Cheque a cor. A cor da cerveja é ditada pelo estilo e varia do palha pálido ao preto, passando pelo laranja, cobre, âmbar  dourado, castanho, marrom, etc. As mais claras são as cervejas de trigo e as mais escuras são as stouts.
Não se preocupe se a sua cerveja não for clara. Alias, clareza em cerveja é coisa conseguida por modernos métodos de filtragem. Como a cerveja é feita com ingredientes orgânicos  o seu corpo tende a ser denso e nublado, e não claro. Em algumas cervejas você conseguira observar pequenas partículas de levedura, quase como se fosse possível mastiga-las. Nao se preocupe, este é um charme todo especial dessas cervejas, principalmente as de trigo.
retenção de espuma também diz bastante sobre a cerveja. Quando a cerveja é colocado no copo, deve-se tanto formar quanto manter um colarinho. Uma espuma mais densa indica maior quantidade de proteínas na cerveja. As bolhas devem ser pequenas e devem subir rapidamente ao topo. Se uma cerveja não formar colarinho, ou esta mal carbonatada ou o copo esta sujo. Se as bolhas não sobem, provavelmente o copo esta empoeirado. Se a espuma tiver uma aparência de espumas de sabão  é porque foi usado um estabilizador de espumas e a cerveja passou pelo processo de clareamento. Então  normalmente as melhores cervejas possuem bolhas pequenas e espuma densa.

3- Prove. Sinta o frescor da cerveja na sua boca e permita que o liquido se espalhe por todos os cantos da língua. O paladar é uma experiencia sensorial que parte do interior da boca e da garganta e é bastante subjetiva.
O sabor primário normalmente é a doçura do malte. Nas cervejas industriais, o sabor do malte é leve, uma vez que se adicionam cereais não-maltados, como o milho. Quanto menos adições  mais rico o sabor da cevada. Quanto mais especiais os grãos de cevada, mais complexo é o sabor, como no caso da adição de grãos tostados. Alguns grãos dão ao paladar um sabor tostado ou torrado, tipo café, nozes ou chocolate.
O objetivo do lúpulo é compensar a doçura do malte. Sem o lúpulo  a cerveja seria um melaço alcoólico impossível de ser bebido. O sabor do lúpulo é o sabor do meio. Aqui você ira sentir de ervas, sabores cítricos  picantes, etc., que podem ir do mais leve ao mais agressivo.
Como o seu paladar, especificamente, sente a cerveja? Maltada, lupulada, equilibrada, robusta, frutada, tostada, complexa são algumas das características que podem descrever os sabores dos ingredientes primários. Mas não se prenda nos termos chavões. Faca comparações  use metáforas  Qual o sabor predominante? Quais os sabores secundários  A cerveja termina seca como um vinho? Ou deixa um final amargo na boca?
Agora, tente determinar a consistência e textura da cerveja. Como você descreveria o corpo da cerveja? Leve? Encorpado? Meio-termo? Cremoso? Gasoso? Mastigável?
Depois de provar a cerveja e discernir os seus vários sabores, aromas e texturas, reflita sobre o que levou o cervejeiro a escolher cada um destes sabores. As varias partes do trabalho foi suficiente para criar uma bebida agradável? É uma bebida fácil ou difícil de ser bebida? Depois de terminados estes passos da degustação, você nunca mais se aproximara de uma cerveja da mesma forma como fazia antes.

domingo, 18 de novembro de 2012

Por uma Filosofia da Cerveja

Pense num Big Mac ou num Burger King Whooper. Ali você tem um hambúrguer cuja carne “real” é misturada com o chamado “pink slime” (literalmente, lodo rosa), um processado a base de rejeitos de carne antigamente usado para fabricação de ração animal, cuja cor é pintada com um spray vermelho que da a aparência de carne "real". Alem do hambúrguer  você tem ali um queijo. Na verdade, uma imitação de queijo. É o chamado “queijo americano”, uma fatia de muitos conservantes, corantes e gordura trans que tem um sabor parecido com o queijo, mas uma textura bem artificial, uma especie de plastico comestível. Tudo recheando duas fatias de pão de qualidade duvidosa, fabricado em serie e com características diferentes de um pão caseiro, como uma maciez fora do comum e a ausência daquela casca mais grossa. Seria isso comida de verdade?

Durante um curso para gerentes de restaurante nos Estados Unidos, participei de uma experiencia interessante. O instrutor pediu que, com os olhos vendados, nos provássemos diferentes tipos de alimentos, pensássemos sobre os sabores e descrevêssemos os sabores. Um dos alimentos era um hambúrguer, destes de McDonalds mesmo. Assim que colocamos o pedaço de hamburger na boca, podíamos ouvir as pessoas na sala disfarçadamente rejeitando o alimento que foi dado, cuspindo nos guardanapos. Claro que esse tipo de sanduíche é o que tem de pior nos restaurantes americanos, o tipo barato, porem ruim. Mas a questão central aqui é que se você pensa com atenção no sabor de tudo que come, com certeza muita coisa seria rejeitada, porque, de fato, não é bom. E, apesar das diferenças de opiniões e paladares, todos temos uma noção do que é bom ou ruim se refletirmos bem nos sabores e aromas dos alimentos que digerimos.

Sei que este é um tema polemico e, para botar mais lenha na fogueira, gostaria de citar dois livros. Um, que li há muito atras, é o Viagem na Irrealidade Cotidiana, onde o autor, Umberto Eco, faz uma critica ao modelo de fantasia do nosso tempo, em que o “todo verdadeiro” se identifica com o “todo falso”, como nos exemplos que ele cita das replicas de mundos na Disney, como os museus de cera aonde os bonecos tem uma aparência tão próxima ao real que as pessoas se perdem no meio deles. Uma replica da Casa Branca, por exemplo, utilizando as mesmas cores e formatos, faz com que a informação histórica assuma um aspecto de reencarnação. Nas palavras de Eco, “a irrealidade absoluta se oferece como presença real (…) a ambição é fornecer um 'signo' que se faça esquecer enquanto tal”.

Ainda falando sobre o consumo das irrealidades (imitações) pelo homem da atualidade, Eco nos alerta sobre a massificação e banalização da opinião. A nossa geração é acostumada a receber toda a informação e a opinião devidamente prontas e tem muita dificuldade em produzi-las por si próprio. Esta é, alias, uma via de mão dupla, na medida em que a grande abrangência dos próprios meios de comunicação, como a TV aberta, por exemplo, faz com que estas disponibilize a informação de forma mais generalizada possível, perdendo a capacidade de focar e aprofundar os temas, já que precisam se comunicar com uma variedade muito grande de níveis sociais e graus de instrução. Um efeito de um conhecimento massificado é a impressão de veracidade que dá ao homem comum, tao acostumado a ouvir e repetir essa ideia que a tem por saber demonstrado e seguro.

Outro livro que joga luz no tema é o “Cerveja e Filosofia”, uma coletânea de artigos em que um deles, escrito por Garret Oliver, da Brooklyn Brewery, chamado “Matrix etílica: realidade versus fac-símile na produção de cerveja”, o autor polemiza ao falar sobre produtos que são comercializados como se fossem cervejas, mas não o são. Garret afirma que mesmo um produto que vem de uma tradição muito antiga como a cerveja é sujeito a fraude. Assim como o queijo americano e o pão macio do McDonald's, algo que esta sendo comercializado como cerveja pode ser apenas um fac-símile, uma copia da real cerveja.

Ainda este mês eu conversava com um diretor de uma pequena cervejaria e ele me contava como uma situação ameaçou o negocio quando um profissional contratado, com experiencia previa numa grande corporação do ramo cervejeiro, prometeu baixar os custos misturando uma grande quantidade de cereais não-maltados no mosto, alem de outras “economias”. Como é de se esperar, a qualidade da cerveja caiu muito e a empresa amargou um prejuízo muito grande advindo da perda de clientes. Ora, entre duas cervejas ralas e sem corpo, qualquer pessoa, por menos consciente em termos de qualidade que for, preferira ficar com as marcas já consolidadas no mercado, como uma Skol, por exemplo. Uma diferença de centavos no preço não afetaria essa escolha.

Por exemplo, imaginemos um bebida feita de cereais não maltados enzimaticamente convertidos, como milho ou arroz, condimentada com extrato de lúpulo, filtrada com carvão vegetal para melhorar o sabor e engarrafada com menos de uma semana de fermentação. Poderia ser considerada cerveja? Oliver acredita que não pode. São apenas uma copia do que, no decorrer da Historia, vem sido chamada de cerveja, assim como a copia do seu RG não é o seu documento de identidade verdadeiro.

Daí Oliver dizer que muitas pessoas vivem na Matrix da falsa cerveja, onde chegam inclusive a “esquecer” o sabor de uma cerveja de verdade na medida em que se acostumam com o fac-símile e a sua mente “apaga” o sabor da cerveja “real”.

A copia alterada para uma produção em serie e barata faz com que a cerveja perca a essência. Aqui podemos retornar aos questionamentos de Umberto Eco sobre a banalização dos sentidos quando alguém reproduz a Mona Lisa para expor a copia num museu americano. Não é a coisa real, mais o seu decalque, mesmo que a exposição ao objeto “falso” possa de fato confundir os sentidos menos experientes. 

A surpresa e perplexidade que acompanham uma cerveja artesanal é um tributo aos 10 mil anos deste líquido sagrado e existe também uma expectativa em relação a toda esta bagagem histórica

Se você é um cervejeiro artesanal, com certeza sabe a sensação de descobrir as mudanças que vão ocorrendo no mesmo lote de cerveja com o passar do tempo. As diversas reações  químicas em diferentes momentos da duração daquele lote da a cada garrafa aberta uma surpresa diferente. Nada dos sabores padronizados. Mesmo experimentando a mesma marca, mesmo estilo, mesma receita, os sabores e aromas variam, porque nem tudo no processo esta sob controle do mestre cervejeiro, a levedura tem vida e vontades próprias. Aí mora toda a beleza desta arte. Cada garrafa é única, como única é cada experiencia de degustação. Cada garrafa é a MINHA (e só minha) cerveja.

A Canção Etílica dos Filósofos, por Monty Python

Esta musica foi uma sátira criada e cantada pelos comediantes do Monty Python, em que contam supostos vícios etílicos de filósofos famosos. No vídeo abaixo, os três atores representam professores australianos, todos chamados Bruce, do Departamento de Filosofia da imaginaria Universidade Woolloommoolloo. Uma das piadas contadas antes da musica tem a famosa "beber cerveja americana é como fazer sexo numa canoa: você esta muito perto da água!".



Immanuel Kant was a real pissant
who was very rarely stable.
Heidegger, Heidegger was a boozy beggar
who could think you under the table.
David Hume could out consume
Wilhelm Friedrich Hegel,
And Wittgenstein was a beery swine
who was just as sloshed as Schlegel.

There's nothing Nietzsche couldn't teach ya
'bout the raisin' of the wrist.
Socrates himself was permanently pissed.

John Stuart Mill, of his own free will,
after half a pint of shandy was particularly ill.
Plato, they say, could stick it away,
'alf a crate of whiskey every day!
Aristotle, Aristotle was a bugger for the bottle,
and Hobbes was fond of his Dram.
And Rene Descartes was a drunken fart:
"I drink, therefore I am."

Yes, Socrates himself is particularly missed;
A lovely little thinker, but a bugger when he's pissed.




Tradução livre:

Immanuel Kant foi um bêbado desprezível
que raramente estava sóbrio.
Heidegger, Heidegger era um mendigo embriagado,
A “pensar” sempre embaixo de uma mesa.
David Hume poderia consumir mais que
Wilhelm Friedrich Hegel,
E Wittgenstein era um porco bebum
Que vivia tão chapado quanto Schlegel.

Não havia nada que Nietzsche não poderia te ensinar
Sobre o levantamento de copo (um trocadilho de masturbação).
O próprio Sócrates estava permanentemente de porre.

John Stuart Mill, usando o seu livre arbítrio,
Depois de uma caneca de shandy já ficava mal.
Platão, como dizem, poderia se manter
com a metade de uma caixa de uísque todos os dias!
Aristóteles, Aristóteles fazia sodomia por uma garrafa,
E Hobbes era apaixonado pelo gole.
René Descartes era um pinguço peidorreiro,
"Bebo, logo existo".

Sim, o próprio Sócrates vivia particularmente perdido;
Um pensador adorável, mas um pederasta quando bebum.

sábado, 17 de novembro de 2012

A Resistência tem Aroma e Sabor



Numa terra de abstêmios ferrenhos, o dono de uma cervejaria pode ser considerado um herói  Este é o caso de Nadim Khoury, o cervejeiro proprietário da microcervejaria Taybeh, a única cervejaria em território palestino. Esta localizada na cidade de mesmo nome, na região da Cisjordania, a 35 quilômetros ao norte de Jerusalém e possui maioria cristã ortodoxa.
Khoury aprendeu a arte cervejeira quando morava em Boston, EUA, com seus colegas de quarto. Na década de 90, quando da assinatura dos Acordos de Oslo, o clima de otimismo o levou de volta a sua terra natal com o objetivo de montar a primeira cervejaria. Claro que nenhum banco da região comprou a ideia, então a família precisou investir recursos próprios. E foi isso, no final, que salvou a cervejaria, já que quando o negocio passou por uma grande crise em 2000, no auge da Intifada, a grande maioria dos outros negócios da região declararam falência em função de dividas com os bancos.
A cervejaria produz quatro tipos de cervejas: Golden, Lager, Amber e Dark. A cerveja Taybeh foi o primeiro produto palestino a ter uma franquia na Alemanha, onde se produzem a Taybeh para o consumo europeu. Também é exportada para o Japão  onde tem uma aceitação muito grande.
Em 2007 a cervejaria começou a produzir a Taybeh Hallal, uma cerveja sem álcool  para conquistar o publico islâmico e, claro, garantir a própria sobrevivência no caso de uma mudança no cenário politico da cidade. No entanto, a falta de liberdade econômica nos países árabes dificulta a exportação da cerveja sem álcool.
A ocupação cria outros problemas, como na distribuição  Apesar de estar a apenas 35 quilômetros de Jerusalém  os caminhões que distribuem a bebida para Israel devem passar num ponto da fronteira que fica a duas horas de Taybeh, onde a carga é revistada e transferida para caminhões israelenses. Como a cerveja não leva conservantes, o fato de ficar exposta tanto tempo ao sol pode ser problemático  Alem disso, apesar de Khoury ter um passaporte americano, por ser palestino ele precisa de uma permissão para entrar em Jerusalém  só podendo entrar a pé e não podendo pernoitar.
Alem de vencer a barreira de conseguir vencer num ambiente hostil, a cervejaria também inova porque ali trabalha como mestre-cervejeira a primeira mulher palestina a exercer a função  Madees Khoury, filha de Nadim e futura herdeira do negocio da família  Khoury considera a cervejaria um simbolo de resistência pacifica a ocupação  que mostra ao mundo que o homem comum palestino quer ter uma vida normal, quer se divertir e curtir uma bebida saudável e saborosa.


Cerveja e Personalidade: O que a sua cerveja favorita diz sobre você?

Qual o seu tipo de cerveja preferido? Você, como eu, gosta de explorar as nuances das cervejas gourmet ou prefere os tipos básicos tipo pilsen? Gosta de explorar cervejas de diferentes países ou se mantem fiel as marcas nacionais? Gasta metade do salario na seção de cervejas especiais do supermercado ou prefere economizar com os tipos mais baratos?

O seu tipo de cerveja pode dizer muito sobre você. Existem vários estudos sobre o tema, principalmente nos Estados Unidos e Canada, que normalmente se baseiam nas predisposiçoes regionais de escolhas e preferencias que se relacionam com cada tipo de personalidade. Por isso, baseado em alguns estudos como os feitos pela Mindset Media e pelo Grupo Ros Taylor e mudando o que deve ser mudado em relação os tipos nacionais, segue abaixo algumas categorias que acredito podem ser aplicadas ao nossos bebedores de cerveja. Claro que, como qualquer teste de personalidade, sempre há exceções. 

Cervejas gourmet: 
Você muito provavelmente tem dinheiro para bancar o seu estilo e pagar mais de vinte reais por cada garrafa. Intelectualmente curioso e mente aberta, se interessa por filosofia e se identifica com o conservadorismo político. Extrovertido, sarcástico e sempre aberto a novas experiencias, você se considera uma pessoa sofisticada. Segundo o Instituto Mindset, você gosta de seriados do tipo The Office.

Cervejas nacionais básicas (Skol, Brahma, etc):
Você é sensível, pé no chão e pratico. Provavelmente se identifica com os princípios políticos de centro ou não dá a minima para politica. Resiste a autoridade, mas com cautela. Gosta de festas, baladas e eh uma pessoa divertida de se ter na rodinha de amigos. Gosta de sertanejo. Não tende a ser sonhador e não se empolga facilmente. Emocionalmente estáveis ​​que vivem no aqui e agora. 

Cervejas nacionais light:
Aqui no Brasil é quase o mesmo tipo que pede uma cerveja de trigo. Fácil de conviver, você gosta de sair e se preocupa com a saúde  Se você prefere pedir uma Brahma Light,  meu amigo, provavelmente está de dieta e tem tendências perfeccionistas. Tem facilidade de aceitar as pessoas. Gosta de sociologia e muda o sobrenome no Facebook pela causa social do momento. É politicamente correto e, portanto, tende a ser de esquerda.

Cervejas Importadas:
Enérgico, ocupado e gosta de manter as aparências, é um daqueles propensos a pagar a conta toda. Pode também ser aquele tipo que vai tentar convencer a mesa de que Heineken eh uma boa cerveja. Pouca modéstia e muita auto-estima, gosta de ser o centro das atenções  Segundo o Instituto Mindset, pessoas que preferem as cervejas importadas tendem mesmo a serem atraídas por produtos luxuosos, importados e são as que sempre compram o ultimo modelo de celular e dirigem um carro esporte. 

Cervejas artesanais (caseiras):
Tipo peculiar e ainda raro neste pais. Passa mais tempo pensando em cerveja do que no seu trabalho. Você foi alem daquela fase de discutir sobre cervejas e decidiu fazer a sua própria  Leva a curiosidade as ultimas consequências e pode ser considerado um desbravador, uma vez que cerveja caseira ainda não é uma tendencia nacional. Politicamente, você tende a ser libertário e se interessa por economia e gastronomia. 

Abstêmios:
Você é louco ou reprimido por alguma religião  De qualquer maneira, este blog não é uma boa influência para você.

domingo, 11 de novembro de 2012

A Cerveja da Casa Branca

Enquanto o mundo se preocupava com os vazamentos de informações da Casa Branca sobre a morte de Bin Laden, um outro mistério tirou o sono de um grupo diferente de pessoas, um grupo que tem preocupações maiores do que o futuro da humanidade ou evitar uma próxima guerra mundial. Estas pessoas eram os cervejeiros caseiros, e as coisas importantes que eles tem na agenda são os lotes de cerveja fermentando no fundo de casa.

Em agosto passado este grupo de teóricos da conspiração cervejeira receberam a notícia que o chefe supremo da nação americana era, ele próprio, um cervejeiro, e tinha montado num quarto da Casa Branca uma pequena cervejaria caseira. Tudo começou quando o presidente Obama presenteou, durante a campanha presidencial, um dono de um café no Iowa com uma garrafa da White House Honey Ale. Tipo de coisa que o abstêmio mórmon Mitt Romney jamais poderia sonhar em fazer. Thomas Jefferson e George Washington, sabemos, eram cervejeiros, mas não existe nenhum registro de que eles tenham produzido cerveja na Casa Branca.

Desnecessário dizer que o mercado da cerveja caseira nos Estados Unidos subiu às alturas. Mas este não foi o maior reboliço. Imediatamente uma legião de cervejeiros invadiram as mídias sociais para reclamar a liberação das receitas usadas pelo presidente. Uma das tentativas frustradas foi um requerimento federal baseado no Freedom of Information Act (FOIA), uma garantia constitucional que obriga o governo a liberar informações controladas por agências governamentais. Não funcionou porque a Casa Branca não é sujeita ao FOIA. Então, a turma entrou com uma petição no site We The People, uma plataforma online de recebimento de abaixo-assinados do governo americano.

Finalmente, em 1º de setembro, o sommelier que ajudava Obama a produzir a sua cerva, o aclamado Ray Daniels, divulgou as tão esperadas receitas. Basicamente, são três as cervejas produzidas na Casa Branca, Honey Porter, Honey Ale e Honey Blonde, todas tendo como ingrediente principal o mel que a primeira-dama produz no quintal da Casa Branca. A receita da Honey Blonde, no entanto, não foi liberada. A data da liberação das receitas somada ao tempo de fermentação quase coincidiu com o dia da eleição, assim os eleitores do Obama poderiam comemorar a vitória com uma das cervejas presidenciais. Inclusive, o grupo com o qual eu me reunia na Philadelphia para trocar informações sobre cervejas artesanais produziu uma Honey Ale que tomaram no dia da eleição. 

É, meus amigos, por mais que não seja fácil reconhecer, é muito difícil resistir ao charme de um presidente cervejeiro.

Como vocês podem ver no vídeo oficial abaixo, o processo é bem artesanal mesmo, nada de produção industrial ou coisa grande. São os 5 galões por lote, usando extrato de malte, temperos e mel. O presidente adquiriu um destes kits caseiros que qualquer pessoa nos Estados Unidos ganha no Dia dos Pais quando o filho quer fugir dos clichês de dar gravatas e sapatos. Coisa que todo cervejeiro caseiro conhece bem e já está acostumado. 


Segue abaixo as receitas, caso queiram testar:

White House Honey Porter
Ingredientes
2 latas (3,3 lbs) de extrato de malte sem lúpulo
3/4lb de malte Munich
1lb de malte cristal 20
6 onças de malte escuro
3 onças de malte achocolatado
1lb de mel da Casa Branca
Lúpulo de amargor 10 HBU
1/2oz de lúpulo aromático Hallertaur
1 pacote de levedura seca Nottingham
¾ de copo de açúcar de milho para engarrafamento

White House Honey Ale
Ingredientes:
2 latas (3,3 lbs) de extrato de malte
1 lb de extrato de malte seco
12 onças de malte cristal âmbar esmagado
8 onças de malte Bisquit
1 lb de mel da Casa Branca
1 1/2oz de lúpulo granulado Kent Goldings
 1 1/2oz de lúpulo granulado Fuggles
1 pacote de levedura de ale seca Windsor
 ¾ de copo de açucar de milho para o engarrafamento (priming)


5 Coisas que você precisa saber sobre Envelhecimento de Cerveja

Envelhecer cerveja é mais ou menos como ouvir música. Algumas pessoas estão sempre atrás dos últimos lançamentos, enquanto outros atem-se aos clássicos. Existem os viciados em música ao vivo alimentados pelo fervor da multidão e os audiófilos que se restringem à privacidade dos fones de ouvido. Alguns gostam de graves, outros curtem o agudo. E assim por diante.

A cerveja oferece uma variedade de nuances infinita, mesmo que os rótulos pareçam exatamente os mesmos. Uma Immort Ale de 2002 com certeza terá um sabor diferente de uma que tenha acabado de sair da linha de produção. Qual é melhor? Isso depende.

"É como o seu sistema de som", diz Rebecca Newman, gerente de controle de qualidade da Dogfish Head. "Se você gosta de um som agudo, você ajusta os controles. Pense na cerveja que sai da fábrica como aquele som mais agudo, acentuado, nítido. Com o passar do tempo, as notas mais graves aparecem, mais cheias, doces, com o sabor de malte acentuado..., enquanto a agudez vai diminuindo. Então, o que você gosta: graves ou agudos?”

Não existem regras rígidas em relação ao envelhecimento de cervejas, é bom manter algumas coisas em mente:

1. Aprecie a experimentação
Gosto é subjetivo e as coisas que acontecem dentro de uma garrafa de cerveja estão mais perto da alquimia do que da ciência exata. Se você está curioso sobre o sabor de determinada cerveja envelhecida, compre algumas garrafas, beba uma e guarde o resto. Experimente a próxima garrafa daqui a seis meses.
Você gostou do sabor de seis meses? Os sabores que você gostou da primeira vez se tornaram mais acentuados ou estão desaparecendo? Se você está feliz com o resultado, experimente outra garrafa depois de mais seis meses. Se o resultado não está tão bom assim, chame os amigos e acabe com o resto.

2. Não subestime a cerveja fresca
Dependendo da cerveja que você envelhece, você notará que alguns sabores se desvanecem e outros se tornam mais acentuados. Várias coisas podem influenciar nessas mudanças, e o principal é o oxigênio.
Há sempre uma oxidação muito lenta e se você é um cervejeiro caseiro aplicado e conseguiu manter o oxigênio fora da garrafa, então a sua cerveja vai envelhecer graciosa e lentamente. Se você não conseguiu manter o oxigênio fora, então a sua cerveja vai perder os sabores rapidamente.
O lúpulo (amargo, floral ou cítrico) desaparece com o tempo, de modo que as IPAs e outras cervejas lupuladas não são boas opções para o envelhecimento. Claro que existem exceções, como a Dogfish Head 120 Minute IPA, que só fica melhor com a idade. Um ano ou dois no descanso dá a essa cerveja um sabor adocicado todo especial.
Cervejas sazonais, em que muitas vezes são usados ingredientes recém-colhidos, bem como cervejas de frutas, são geralmente melhor quando frescas.

3. Alto teor alcoólico tende a envelhecer melhor
Embora haja exceções, recomenda-se envelhecer cervejas que estejam próximas de ABV 10%. Existe certa “proteção” nestas cervejas, bem como nas cervejas que possuem malte escuro ou tostado, como a Stout, que faz com que a idade tira a agudez e dá um acabamento mais aveludado. Mesmo cervejas com baixo teor alcoólico, mas com um malte mais pesado, vai envelhecer melhor. Uma Brown Ale, por exemplo, se sairá melhor que uma IPA 60 minutos.

4. Tipo de armazenamento importa
Luz e calor acelera a oxidação, portanto deve-se armazenar a cerveja em um local fresco e escuro. Porões ou refrigeradores a 50-55º F são as melhores escolhas. E mantenha sempre as garrafas em posição vertical. Se você armazenar as garrafas deitadas, gire-as, agite-as e deixe-as em pé por algumas horas, para que os sedimentos se acumulem no fundo da garrafa.

5. A cerveja não vai estragar
Você talvez não goste do resultado do envelhecimento, mas não se preocupe, cervejas não estragam. Não existe nenhuma data de expiração, ela só vai ter um sabor diferente. Não vai deixar você doente. Pode não ser o sabor que você se lembra, mas será totalmente saudável.


Este texto é baseado num post do site www.dogfish.com

sexta-feira, 9 de novembro de 2012

A mais cara



Ainda sobre o Egito Antigo, uma oportunidade para falar de uma das mais caras cervejas do mundo. A história dessa cerveja é quase como o roteiro de um filme de Indiana Jones. Um time de arqueólogos da Universidade de Cambridge descobriu uma receita e a descrição do método de fabricação desta cerveja no Templo do Sol da Rainha Nefertiti. A cervejaria encontrada num dos quartos do templo foi construída pelo Rei Akhenaton, pai do Rei Tutankhamon.

A Sociedade de Exploração Egípcia então buscou a ajuda da cervejaria Scottish and Newcastle. O resultado foi a produção de um lote de 1.000 unidades da Tutankhamon Ale (6% ABV), feita com base nessa receita de 3250 anos atrás. 

Os arqueólogos examinaram os grãos e sementes deixadas pelos cervejeiros antigos, bem como os resíduos de cerveja nos frascos escavados, de forma a determinar como a cerveja foi feita. Até a água dos poços do deserto na área foi estudada. Analisaram as pinturas dos túmulos, decifraram hieróglifos e escavados resquícios de levedura em busca da receita do Faraó.

Ao reconstruir a receita, foi usado um antigo tipo de trigo cultivado pelos egípcios e coentro, especiaria muito usada na região do Nilo. A primeira garrafa foi vendida na Inglaterra por cerca de 7.200 dólares. Todas foram vendidas em Harrods, em Londres, com exceção de três que foram leiloadas pelo Museu de Artes de Indianápolis, nos Estados Unidos, por 525 dólares cada. 

O néctar dos Faraós



Outro país que visitei foi o Egito. Diferentemente de Moçambique, a proibição islâmica em relação ao álcool surte algum efeito. Mesmo assim, eles são bastante tolerantes com os turistas, uma vez que bebidas podem ser facilmente compradas em qualquer cidade. As leis são mais liberais que nos outros países islâmicos vizinhos, exceto no mês de Ramadã, em que apenas lugares turísticos vendem cervejas e, na lua cheia que precede o mês, a proibição é total. As cervejas mais comuns são a Sakara, nas versões Gold e King (esta com ABV 10%!!!), a Luxor Classic e a Stella Artois.

O Egito, no entanto, não é tão notável pelo que o país tem de moderno, mas pelo mergulho na História antiga que oferece. E a cerveja, sabe-se, era um componente primordial na dieta do antigo egípcio. Eles bebiam cerveja todos os dias e quase todas as refeições. Era tão importante que era usada como parte do pagamento dos salários dos trabalhadores. Sim, existiu uma era perfeita onde os trabalhadores eram pagos com cerveja. Nem o melhor dos marxistas conseguiria imaginar um mundo tão perfeito.

A cerveja era consumida naquela época por todas as classes sociais, por crianças e adultos. Era também oferecida aos deuses e colocada nos túmulos dos mortos. Durante a minha visita ao Museu do Cairo, pude ver entre os objetos deixados nos túmulos vários vasilhames em que eram colocadas cervejas para o consumo post-mortem dos faraós. Era tão popular que a ressaca era considerada uma razão legítima para faltar ao trabalho.

O processo de produção da cerveja também se encontra registrado em paredes de tumbas. Vários textos antigos dão informações sobre os ingredientes e os procedimentos adotados. O estudo de potes de cerveja pintados também ajudou a pintar um quadro mais completo. Estas cervejas eram geralmente feitas em casa pelas mulheres ou escravos como parte das tarefas domésticas diárias.

O processo era o mesmo da fabricação de pão e, de fato, às vezes era feito de pão velho. O pão era pressionado por uma peneira com água, em um frasco. Normalmente eles adicionavam outros ingredientes para acrescentar sabor, como mel, especiarias e ervas. A seguir, o líquido era filtrado e fermentado. Como era parte da dieta, não tinha um teor alcoólico muito alto, e, pela mesma razão, era mais espessa, extremamente doce (não se usava lúpulo) e nutritiva.

No entanto, a cerveja usada nos festivais aos deuses possuía muito álcool, dado a utilidade desse teor inebriante nestes cultos religiosos. Os festivais das deusas Bast, Sekhmet e Hathor eram regados à muita cerveja com alto teor alcoólico. Uma história contava como a cerveja salvou a humanidade quando Sekhmet (em seu papel como o “Olho de Rá”) foi levada a beber cerveja vermelha que ela confundiu com o sangue e ficou muito bêbada, tendo ficado desmaiada por três dias. Embora estas três deusas estavam intimamente associadas a cerveja, Tjenenet é que era a antiga deusa egípcia oficial de cerveja. Segundo a lenda, Osíris ensinou aos antigos egípcios a arte de produção de cerveja.

O glifo na língua egípcia antiga para um jarro de cerveja (abaixo) também aparecia em palavras como “tigela de oferendas de pão”, “café da manhã”, “cerveja”, “bebida”, “pagamento de salário”, “alimentos”, “oferenda”, “ceia”, etc.

Cerveja das bruxas!



O mundo da cerveja gourmet, com todas as suas diferentes variantes em relação ao sabor, ao aroma, aos tipos, etc., é também determinado pelos produtos que cada estação do ano. Por exemplo, este período entre o Halloween e o Natal, com seus temas de outono, oferece uma oportunidade para o surgimento de algumas tendências específicas desta estação, como as cervejas de abóbora.

Dentre as diversas cervejas, uma das minhas preferidas é a Ale Punkin, da cervejaria Dogfish Head Craft Brewery. Esta é uma cerveja bem encorpada, com ABV 7%, 24 IBU (teor de lúpulo), de tom marrom e com toques suaves de abóbora e açúcar mascavo. Perfeita para o clima frio, vai bem com todas as carnes tradicionais desta estação, como o peru assado, pato assado, cordeiro. Abv 7%. 24 IBU.

Outra delícia especial desta estação é a Imperial Pumpkin, da cervejaria Weyerbacher Brewing Company. ABV em 8,0%, é considerada a mãe de todas as cervejas de abóbora. É a mais encorpada, a mais picante e a mais caramelada de todas. Além de uma substanciosa quantidade de abóbora, esta cerveja tem canela, noz-moscada e um toque de gengibre e cravo.

Por último, outra ótima cerveja sazonal é a Pumking, da cervejaria Southern Tier Brewing Company. Esta cerveja é uma ode à Puca, uma criatura travessa do folclore celta, que é ao mesmo tempo temido e respeitado por aqueles que acreditam nele. Diz a lenda que Puca carrega uma lanterna durante a noite, ataca de surpresa os viajantes ou toca melodias no seu violino. Quando encontra uma vítima, Puca lhe dá conselhos enganadores ou o atrai para um penhasco ou um pântano. Esta é uma típica história de Halloween e esta cerveja, fabricada no espírito deste dia, é um excelente acompanhamento para esta época do ano, quando a magia é mais potente. ABV 8,6%.

quinta-feira, 8 de novembro de 2012

A premiada, a popular e a encorpada



Nada mais oportuno então do que tecer algumas palavras sobre as cervejas moçambicanas. Este ano a cerveja mais antiga de Moçambique comemora 80 anos, a Laurentina. O nome é uma homenagem ao antigo nome de Maputo, Lourenço Marques, que por sua vez era uma homenagem ao explorador português que, no século XVI, comandou as explorações na área da Baía de Maputo.
A cerveja já recebeu vários prêmios internacionais, inclusive o Grand Gold de Bruxelas, em 2009. A história dessa cerveja começou quando o imigrante grego Cretikos, ex-vendedor de água fresca, resolveu abrir a primeira fábrica de gelo e de água mineral de Moçambique, a Victoria Ice and Water Factory. Em 1932, ele viaja a Alemanha e contrata um mestre cervejeiro para desenvolver uma receita de estilo europeu.
A cervejaria foi estatizada pelo governo de Samora Machel após a independência de Moçambique e foi novamente privatizada já nos anos 1990, quando a multinacional Castel, proprietária da angolana Cuca, comprou a Laurentina. As variantes da Laurentina são Preta, Clara e Premium. A cervejaria sofreu uma intervenção do governo de Samora Machel após a independência de Moçambique, em 25 de junho de 1975. Em 2002, a marca foi vendida, por fim, à multinacional sul-africana SABMiller, que comprou também a 2M e a Manica.

A cerveja mais popular, a 2M, da fábrica Mac Mahon, foi inaugurada em 1965, em Maputo. O nome é uma homenagem ao antigo presidente francês Marie Edmé Patrice Maurice, conde de Mac-Mahon, que, em 1875, decidiu a favor de Portugal numa disputa com a Grã-Bretanha em relação à posse do Sul de Moçambique.
Considerada a cerveja da classe mais pobre, chegou a ser vendida sem rótulo durante os anos da guerra civil, só sendo possível reconhecê-la pelo símbolo estampado na tampa. Além disso, nesta época as máquinas eram muito obsoletas e inclusive uma avaria na máquina pasteurizadora fez com que a vida útil da cerveja era de uma semana, fazendo com que praticamente todas as cervejas levadas para fora de Maputo chegassem ao seu destino fosse imprópria para o consumo.
Também foi estatizada, mas, em 1995, quando da assinatura do acordo de privatização entre a SABMiller e o Governo de Moçambique, foi estabelecido a Cervejas de Moçambique SARL e, em dezembro de 2003, esta se tornou a primeira empresa moçambicana na Bolsa de Valores de Moçambique. Com a cotação da empresa, os trabalhadores passaram a deter 10% das suas ações.

Finalmente, a cerveja Manica, de longe a minha preferida, é mais encorpada que as outras, mas não tão popular. Produzida na província de Manica, onde eu vivia, ela não é tão fácil de ser encontrada em outras regiões do país. Em Moçambique se bebe cerveja diferentemente de como se bebe no Brasil. Ali, elas veem numa garrafa de 550ml e não se serve uma garrafa para cada mesa, mas uma para cada pessoa. Sendo assim, minha primeira experiência com uma garrafa de Manica, ABV 5.5%, foi bem “especial”... Ela me lembra, com as devidas ressalvas, a Therezópolis Premium.

O mercado cervejeiro em Moçambique está em franca expansão, mas a história não lhe foi gentil. Sobreviveu a vários momentos de séria crise no país, como o racionamento de alimentos pós-independência, fruto do governo com forte influência soviética, quando muito da produção de alimentos era exportada para a China e Rússia, e a população era obrigada a racionar comida. Nos restaurantes, por exemplo, era estabelecido que só se podia vender uma cerveja por refeição. Outra situação foi a evasão de mais da metade dos técnicos qualificados, obrigados a retornar a Portugal, em consequência da descolonização.

A CDM, inclusive, no ano passado, criou a primeira cerveja de mandioca do mundo. Chamada Impala, desenvolvida com um duplo objetivo de ser consumida pelas camadas mais pobres da população, e para ajudar os pequenos agricultores do norte de país a escoarem os excedentes de mandioca que apodrecem nos campos.
Além disso, no meio deste ano, lançaram a Chibuku, uma cerveja de milho, feita com o milho produzido na província de Manica.

Hoje todas estas cervejas fazem parte da CDM Cervejas de Moçambique, afiliada da multinacional SABMiller, uma das maiores cervejarias mundiais.

Kuda, meu parceiro na companhia de Manica

A primeira cervejaria do mundo


Estas fotos foram tirados por mim quando da minha visita a Chinhamapere, na província de Manica, em Moçambique. Estas pinturas rupestres são um dos registros mais antigos da civilização humana, tendo sido pintadas no Período Paleolítico. Possuem 25 a 27 mil anos de existência e são consideradas sagradas pelos moradores da região. 

Já contei sobre esta minha visita a Chinhamapere no outro blog. O que gostaria de fazer referência aqui é em relação a esta outra foto de uma área que fica no caminho para o topo do morro onde se encontram as pinturas rupestres. Este lugar abaixo era, segundo a nossa guia, onde os antigos daquela região fabricavam sua cerveja. A barreira linguística tava meio complicada lá, mas o que conseguimos entender é que a cerveja era fabricada pelas mulheres da tribo e o processo se dava pela fermentação de sorgo, que em Moçambique é chamado de mapira. A forma como isso se dava não ficou claro, mas sabe-se que uma das maneiras mais antigas de fabricar cerveja é colocando uma pedra no fogo por muito tempo e jogando-a, escaldante, dentro do vasilhame com o mosto. Considerando o lugar, as pedras e os resquícios de fogo, alguém pode apostar nesse sentido. Sendo este talvez o registro mais antigo da Humanidade, não seria errado dizer que abaixo está o sítio arqueológico da cervejaria mais antiga do mundo.



No próximo post, falarei sobre as cervejas modernas de Moçambique. Afinal, elas sempre me acompanharam nas melhores lembranças que tenho daquele país. Tanto que mereceram esta homenagem:

terça-feira, 6 de novembro de 2012

Envelhecimento nas cavernas

Vinho não é a única bebida que quanto mais velha, melhor fica. Muitas cervejas se beneficiam deste processo de maturação e envelhecimento. Claro que a maioria das cervejas tem uma vida útil de 3 a 6 meses depois da qual a qualidade decai. Certas cervejas, no entanto, imploram por essa maturação e o sabor definitivamente é melhor após o envelhecimento, tais como barleywine, imperial stouts, old ales, belgian strong ale, lambicas, só pra citar algumas.

Quero voltar a falar mais sobre envelhecimento de cervejas no futuro, mas neste post quero falar sobre um sistema de envelhecimento bem diferente das adegas convencionais. É o que fez a cervejaria Ommegang, em New York. Ao invés de simplesmente deixar as cervejas assentarem numa adega ou porão por alguns anos, Ommegang decidiu levar as coisas um pouco mais embaixo e passou envelhecer suas cervejas numa caverna da região, chamada Howe Caverns, localizada a 45 minutos da cervejaria.

No inverno, quando a região está absolutamente congelando, os engradados são transportados para Howe Caverns, para ficarem a 40 metros de profundidade, por 9 meses. Devido à temperatura de caverna ser constantemente fria, muito embora a cerveja seja deixada em repouso durante 9 meses, ela mantém-se mais fresca do que uma cerveja envelhecida na adega. Assim, a cerveja se beneficia dos dois fatores: frescor da cerveja recém-fabricada e o sabor da cerveja envelhecida. Aliás, o mesmo sistema de envelhecimento em caverna é usado em regiões da França desde muitos séculos para envelhecer champanhe, por exemplo. Ommegang usa esse processo com três das suas cervejas, Abbey Dubbel, Hennepin e Three Philosophers. Eu tive a oportunidade de degustar a Abbey Dubbel e a Hennepin e devo dizer, são duas das melhores nas suas categorias. A Heneppin, em especial, tem um paladar muito próximo do estilo belgian saison e o sabor da idade dá um toque muito especial.

É possível encontrar essas cervejas em boas cervejarias de New York, mas não se espante se encontrar mofo ou terra na garrafa. São os resquícios da caverna...

Cerveja da braba!



Quando uma cervejaria tem a palavra “twisted” (torto) no nome, pode esperar que alguma coisa estranha e diferente está por vir. Uma criação da Twisted Pine Brewery, uma cervejaria de Boulder, Colorado, levou a ideia de inovação cervejeira para um nível todo especial. Talvez você tenha bebido ou ouvido falar de cerveja apimentada. É uma tendência mais ou menos comum nos Estados Unidos, mas a maioria disponível é possível de ser bebida. Twisted Pine, no entanto, criou uma cerveja capaz de fazer chorar até o mais macho dos “cabra”.

O nome da cerveja, Ghost Face Killah, é uma homenagem ao famoso rapper integrante do grupo Wu-Tang Clan. É uma American Wheat (de trigo) com seis tipos de pimentas e é provável que apenas uma delas seria capaz de te destruir. As pimentas usadas são ​​anaheim, fesno, pimenta serrano, jalapeno, habanero, e se nenhum destas é forte o suficiente pra você, eles também usam a pimenta considerada a mais forte do mundo: a pimenta indiana bhut jolokia, mais conhecida como pimenta fantasma. Aliás, a receita dessa cerveja privilegia a pimenta fantasma, fazendo com que seja o sabor e aroma mais dominante. Em outras palavras, esta é uma cerveja ridiculamente apimentada. Essa cerveja vai esquentar o seu paladar de tal forma que com certeza você não a esquecerá tão cedo!

Vai encarar?